Tech Lead: O Que Se Espera Além da Excelência Técnica?
Excelência técnica, por si só, não te torna um bom líder.
Ser um Tech Lead vai muito além de escrever código e projetar arquiteturas. Se você acha que dominar arquitetura, design patterns e clean code é o suficiente para liderar uma equipe, preciso te contar uma verdade incômoda: excelência técnica, por si só, não te torna um bom líder.
Talvez você já tenha vivido essa experiência — ser o melhor dev do time, resolver os problemas mais cabeludos e, de repente, ser promovido para um programador(a) líder. Parece um reconhecimento merecido, certo? Mas, logo vem o choque: as mesmas habilidades que te trouxeram até aqui não são as mesmas que vão te fazer um bom líder.
Liderança técnica não é sobre ter controle total sobre o projeto ou sobre a equipe. Não é sobre dar ordens e garantir que tudo seja feito exatamente do seu jeito. Se você tentar seguir por esse caminho, vai perceber rapidamente que ninguém gosta de um líder que apenas centraliza decisões e dita regras.
Então, o que realmente faz um Tech Lead ser eficiente? A resposta está no impacto que você gera através das pessoas. Seu papel não é apenas guiar a parte técnica, mas lançar uma visão para o time e criar um ambiente onde todos possam evoluir e contribuir com o melhor que têm. Seu sucesso não é mais medido pela qualidade do código que você escreve, mas pelo crescimento e eficiência da sua equipe.
Mas como fazer essa transição de desenvolvedor técnico para líder estratégico? Como equilibrar a técnica com soft skills, alinhar pessoas, gestão de conflitos e visão de produto? É isso que vamos explorar neste artigo. Vem comigo nessa conversa.
Comunicação: O Código Sozinho Não Conduz Um Time
Você já trabalhou em um projeto onde os requisitos mudavam o tempo todo? Ou onde você e seu time passaram dias desenvolvendo algo só para descobrir que o que o cliente queria era outra coisa? Se sim, você já sentiu na pele o impacto de uma comunicação falha.
A verdade é simples: Código bem escrito resolve problemas técnicos, mas sem comunicação clara, pode acabar resolvendo o problema errado.
Em times de engenharia, a comunicação precisa ser tratada com a mesma seriedade que damos ao código limpo e bem estruturado. Afinal, de que adianta um sistema escalável e performático se ele não atende às reais necessidades do negócio? Se a equipe não entende o propósito do que está construindo, se as prioridades não estão alinhadas e se os devs não se comunicam entre si, até o melhor código do mundo pode ser inútil.
Mas o que significa comunicação em engenharia de software?
Comunicar-se bem não é só saber explicar algo, ou transmitir em uma daily o status da sua atividade, nem é sobre escrever um documento técnico detalhado. É garantir que a informação certa chegue às pessoas certas, no momento certo, e da maneira certa, com clareza e transparência. Isso vale tanto para desenvolvedores, quanto para PMs, designers e stakeholders.
E aqui está o ponto: um Tech Lead precisa ser um tradutor. Seu papel não é apenas código e destravar o time, mas também traduzir (ajudar a esclarecer) requisitos de negócio para o time técnico e transformar complexidade técnica em insights estratégicos para a liderança.
Quando a comunicação não funciona, os sinais são claros:
• Desenvolvedores ficam sem contexto e acabam tomando decisões erradas.
• O time sente que está construindo funcionalidades sem propósito.
• Product Managers e Stakeholders ficam frustrados com entregas desalinhadas.
• O retrabalho aumenta, o ritmo desacelera e a motivação despenca.
Então, como um Tech Lead pode garantir que a comunicação flua e que o time esteja sempre alinhado?
Técnicas para alinhar expectativas entre desenvolvedores, product managers e stakeholders
Alinhar expectativas não é apenas sobre “conversar melhor” — é sobre criar um processo de comunicação eficiente, reduzir ruídos e garantir que todos falam a mesma língua. Considere isso:
✅ Reuniões de Kickoff bem estruturadas
Antes de começar qualquer desenvolvimento, tenha um momento para garantir que todos estão alinhados. Isso pode ser uma reunião rápida com devs, PMs e designers para revisar os objetivos, desafios e possíveis limitações da sprint ou projeto. Um bom Tech Lead sabe que uma hora de alinhamento pode economizar dias de retrabalho.
✅ Critérios de aceitação bem definidos
Os devs precisam entender exatamente o que significa “feito” para cada funcionalidade. Requisitos ambíguos levam a diferentes interpretações. Certifique-se de que todos concordam sobre o que precisa ser entregue, quais são as restrições e como será validado.
✅ Decisões técnicas com contexto
Não basta dizer “vamos usar GraphQL ao invés de REST” ou “essa feature precisa ser desacoplada”. O time precisa entender o porquê dessas decisões, os trade-offs envolvidos e como isso impacta o produto.
✅ Diminua o “telefone sem fio”
Se a única interface entre o time técnico e o time de produto são tickets no Jira, algo está errado. Um bom Tech Lead facilita conversas diretas sempre que necessário, evita suposições e garante que todos tenham acesso às informações importantes.
✅ Feedback contínuo
A comunicação não é um evento único. Ela precisa ser ajustada constantemente. Pergunte ao time:
• “Vocês sentem que têm informações suficientes para desenvolver essa feature?”
• “O que poderia melhorar no nosso processo de alinhamento?”
• “Houve algum momento recente em que um mal-entendido impactou nosso trabalho?”
Ser Tech Lead não significa ter a palavra final. Significa garantir que todas as vozes sejam ouvidas antes de decidir.
Um Tech Lead que escuta ativamente evita surpresas desagradáveis e mantém o time alinhado.
O papel da comunicação assíncrona em times distribuídos
Se você trabalha com times remotos ou distribuídos, já percebeu que nem toda comunicação pode acontecer em tempo real. Ficar preso em reuniões constantes ou depender de respostas imediatas no Slack pode ser um pesadelo para a produtividade.
É aqui que entra a comunicação assíncrona: garantir que a informação esteja acessível e documentada, para que qualquer pessoa possa consultá-la a qualquer momento. Podemos citar algumas boas práticas para comunicação assíncrona eficiente:
📌 Escreva melhor, escreva mais
Nem tudo precisa ser resolvido em reuniões. Documente decisões técnicas, explicações sobre arquitetura e racionalizações de escolhas de forma clara. Uma boa escrita técnica reduz dúvidas e evita reuniões desnecessárias.
📌 Use ferramentas que favorecem registros claros
Slack é ótimo, mas mensagens se perdem. Para informações importantes, use Notion, Confluence, ou documentos bem estruturados. Evite que conhecimento crítico fique espalhado em conversas privadas.
📌 Atenção à clareza e objetividade
Se você está enviando uma mensagem ou um documento para o time, tente sempre estruturar da forma mais clara possível:
• Qual é o problema?
• O que já foi considerado?
• Qual a decisão tomada e por quê?
• Quais são as próximas ações?
📌 Defina SLAs para respostas
Se o time trabalha com fusos horários diferentes ou tem estilos de trabalho distintos, é importante definir expectativas sobre tempo de resposta. Exemplo: “E-mails podem levar até 24h para resposta, mensagens críticas no Slack devem ser respondidas em até 2h”.
📌 Grave vídeos curtos explicativos
Às vezes, um vídeo curto explicando um contexto técnico pode ser mais eficiente do que um longo texto.
Quanta coisa conversamos! Bom agora que falamos sobre comunicação, vamos para algo diretamente ligado a isso: o crescimento do time.
Como Tech Lead, não basta você ser o mais experiente da equipe — seu verdadeiro impacto acontece quando você consegue ajudar os outros a crescerem também. E isso nos leva ao próximo ponto. 👇🏼
Mentoria e Desenvolvimento do Time: Crescer Junto é a Chave
Se você é Tech Lead e sente que, sem você, o time não anda, então temos um problema. E o problema não é o time — é você.
Muitos Tech Leads caem na armadilha de querer ser o herói da equipe, aquele que resolve tudo, tem todas as respostas e nunca deixa um erro passar (sobre isso. veja a nota ao rodapé da página)1. Parece algo nobre, certo? Errado. Quando você faz isso, na verdade está sabotando o crescimento dos desenvolvedores ao seu redor e criando um time dependente ao invés de autônomo.
A real liderança não está em ser o mais inteligente da sala e resolver todos os problemas que outros poderiam resolver, não é apenas sobre evitar erros, mas em garantir que o time todo cresça junto e entenda o que está sendo desenvolvido. O objetivo não é só entregar código de qualidade, mas desenvolver pessoas. Afinal, quanto mais capacitado seu time estiver, menos gargalos existirão e mais forte a equipe se tornará.
Mas existe uma linha muito tênue entre ensinar e simplesmente dar todas as respostas prontas. E nisso mora um erro comum: a mentoria mal feita pode criar devs que não pensam por si próprios.
A Diferença Entre Ensinar e Dar Respostas Prontas
Pense no reino animal, vemos como muitos animais ensinam seus filhotes a caçar, mas não colocam a comida direto na boca deles para sempre. Por exemplo vamos falar sobre a leoa, em um primeiro momento, ela leva os filhotes para assistir às caçadas, permitindo que eles observem e entendam o processo. Depois, ela começa a deixar que participem de algumas tentativas, errando, aprendendo, ajustando. Em algum momento, ela se afasta e deixa que os filhotes pratiquem sozinhos, ganhando confiança para se tornarem caçadores independentes.
Agora imagine se, em vez disso, a mãe leoa caçasse para sempre pelos filhotes e nunca os deixasse tentar. O que aconteceria? Eles morreriam de fome assim que precisassem agir sozinhos.
A mesma lógica vale para um Tech Lead. Se toda vez que um desenvolvedor júnior ou pleno tiver uma dúvida você simplesmente der a resposta pronta, ele nunca desenvolverá sua capacidade de pensamento crítico. No curto prazo, isso pode até parecer legal, porque o time avança mais rápido. Mas no longo prazo, você estará formando profissionais inseguros e dependentes, que não sabem tomar decisões sem perguntar a alguém. Tente visualizar a situação abaixo:
Cenário 1: Dar a Resposta Pronta
👨💻 Dev: “Ei, estou tentando evitar um NullPointerException aqui. Como faço?”
👨🏫 Tech Lead: “Ah, só usa Optional que resolve.”
🚨 Problema: O dev aplica a solução, mas não entende a raiz do problema. Ele apenas segue ordens sem saber por que a exceção acontece, quando ocorre e quais são as melhores práticas para evitá-la.
Cenário 2: Ensinar e Incentivar a Autonomia
👨💻 Dev: “Ei, estou tentando evitar um NullPointerException aqui. Como faço?”
👨🏫 Tech Lead: “Boa pergunta! Você já investigou em qual ponto da execução esse null acontece?”
👨💻 Dev: “Ainda não… Mas sei que está vindo de um método que retorna um objeto.”
👨🏫 Tech Lead: “Certo. Você já verificou se esse objeto pode ser null dependendo do fluxo de execução?”
👨💻 Dev: “Hmm… Vou colocar um log aqui… Ah, entendi! O problema acontece quando a busca no banco de dados não encontra um resultado.”
👨🏫 Tech Lead: “Exato! Agora, como podemos evitar isso? O que acha que seria uma solução melhor?”
👨💻 Dev: “Bom, posso usar Optional para tratar o caso vazio e evitar a exceção.”
👨🏫 Tech Lead: “Ótimo! Mas também vale pensar se faz sentido um valor null aqui. Talvez seja melhor garantir um valor default ou evitar que null chegue nesse ponto do código.”
✅ Resultado: O dev aprendeu a investigar, identificar a causa raiz e escolher a solução mais adequada. Da próxima vez, ele não precisará perguntar — ele saberá como diagnosticar o problema sozinho. Ser Tech Lead é ensinar a caçar, não alimentar para sempre outros.
“Uma lição difícil para o Tech Lead é permitir que as pessoas falhem, permitir que cometam erros.” ― Patrick Kua, Conversando com Tech Leads
Microgerenciar: O Veneno Que Destrói Times de Engenharia
Agora vamos falar de um problema ainda mais perigoso: microgerenciamento.
Se você já trabalhou com alguém que questionava cada detalhe do que você fazia, queria ser copiado em cada commit, ou ficava cobrando status a cada uma hora, então você sabe como é frustrante lidar com um Tech Lead que não sabe gerenciar as atividades dos outros membros do time.
Microgerenciar significa não confiar no seu time para tomar decisões e querer controlar cada aspecto do trabalho deles.
E quer saber? Isso não é liderança. Isso é insegurança.
Quando um líder microgerencia, ele passa duas mensagens muito claras para o time:
❌ “Eu não confio em vocês.”
❌ “Vocês não são bons o suficiente para fazer isso sem minha aprovação.”
O impacto disso?
• Times inseguros: Desenvolvedores começam a duvidar de suas próprias habilidades.
• Falta de autonomia: O time para de tomar decisões e espera ordens para tudo.
• Desmotivação: Ninguém gosta de se sentir vigiado o tempo todo.
• Engargalamento: O Tech Lead vira um gargalo porque tudo precisa passar por ele.
Se você precisa microgerenciar, então você não lidera — apenas controla.
💡 Quer saber se você está microgerenciando? Pergunte-se:
✅ Eu confio no meu time o suficiente para que eles tomem decisões sem mim?
✅ Eu deixo os devs errarem e aprenderem ou sempre interfiro antes?
✅ Eu reviso código para garantir qualidade ou para impor meu jeito de fazer as coisas?
Microgerenciar não significa garantir qualidade, significa criar um ambiente tóxico e sufocante.
Como um Tech Lead Pode Ajudar o Time a Crescer Sem Microgerenciar?
1️⃣ Dê contexto, não só tarefas
Ao invés de apenas distribuir tickets no Jira, explique o propósito do que está sendo feito. “Estamos construindo essa feature para reduzir o churn de usuários, porque identificamos que 30% deles abandonam o app após três dias sem interação.” Isso dá sentido ao trabalho do time.
2️⃣ Não sufoque
Se um dev propõe uma solução, em vez de simplesmente aprovar ou rejeitar, faça perguntas: “Quais são os trade-offs dessa abordagem?” ou “Como isso se comportaria com um volume 10x maior?” Isso estimula o pensamento crítico.
3️⃣ Dê autonomia com responsabilidade
Não precisa revisar cada linha de código obsessivamente. Se o desenvolvedor for inexperiente, ofereça mentoria, mas confie no trabalho dele. Defina guidelines claras e dê espaço para o time decidir dentro desses limites.
4️⃣ Crie um ambiente seguro para aprendizados
Se o time tem medo de errar, é porque a cultura está errada. Em vez de punir erros, trate-os como aprendizado. A pergunta não deve ser “quem errou?”, mas “como podemos evitar esse erro no futuro?”.
5️⃣ Seja acessível
Esteja disponível para ajudar, mas não fique cobrando updates a cada cinco minutos. Se algo precisa de acompanhamento mais próximo, crie checkpoints claros, mas sem exageros.
“Eu entendi completamente errado que eu tinha que dar à equipe a liberdade de projetar seu trabalho. Eu deveria estar agindo como um pastor, cuidando deles e os guiando na direção certa, em vez de impor todas as minhas ideias.”
― Patrick Kua, Conversando com Líderes de Tecnologia
Um Tech Lead que sabe se comunicar bem e desenvolve seu time sem microgerenciar já está no caminho certo. Mas agora vem um desafio diferente: como tomar boas decisões técnicas e estratégicas?
Não Seja um Babaca, Principalmente com os Mais Inexperientes
Vamos falar de uma verdade inconveniente: alguns babacas chegam ao cargo de Tech Lead. Eu sei, você sabe, todo mundo sabe. Não sei como, mas eles conseguem. Talvez porque sejam tecnicamente bons. Talvez porque a gestão acima deles seja ainda pior. Talvez porque a empresa ainda não tenha processos sólidos para impedir que esse tipo de profissional escale para um cargo de confiança.
Se você acha que é um Tech Lead incrível só porque escreve o melhor código do time e acha que todas as suas ideias são brilhantes e tem plena convicção que é superior a todos os seus colegas de trabalho e que sem a sua aprovação tudo é uma “porcaria"… eu tenho uma péssima notícia para você:
👉 Você provavelmente só é Tech Lead porque sua gestão é pior do que você.
👉 Sua empresa não tem um critério sério para colocar pessoas nesse cargo e você nem deveria estar nessa posição.
👉 Você é um Babaca. 🙃
Tech Lead é um cargo de confiança e confiança significa que gerentes, diretores e CEOs acreditam que você pode conduzir um projeto e um time de maneira técnica, suave e eficiente. Mas para alcançar os objetivos de negócio ter um babaca liderando um time não é uma escolha inteligente. É a mais burra decisão e vou te contar o porque.
Se você acredita que impor suas ideias, humilhar desenvolvedores mais inexperientes em code reviews e menosprezar opiniões divergentes são formas de se posicionar, então você é o problema — e não a solução.
Fazer parte da liderança técnica não é ter um pedestal para mostrar superioridade técnica. É sobre ser um ponto de referência confiável, acessível e seguro para o time.
Um time de engenharia precisa saber que pode contar com seu Tech Lead sem medo de retaliação, humilhação ou sarcasmo. Isso significa que perguntas não podem ser ridicularizadas, dúvidas não podem ser motivo de piada e erros não devem ser tratados com desdém.
Imagine um desenvolvedor júnior ou alguém que acabou de entrar na empresa. Eles ainda estão entendendo o código, os processos internos, a cultura do time. Eles precisam de um ambiente seguro para perguntar e aprender. Eles vão errar bastante no começo. Agora imagine que, ao fazer uma pergunta simples durante um code review, o Tech Lead responde com sarcasmo ou impaciência:
❌ “Sério que você não sabe isso?”
❌ “Pelo amor de Deus, esse código está horrível.”
❌ “Como que te contrataram sem saber isso?”
❌ “Não vou explicar isso, se vira!”
❌ “Ah, vou fazer eu mesmo, porque não dá para confiar em você.”
O que acontece com essa pessoa?
Ela se fecha. Ela para de perguntar. Ela procura outra pessoa para poder tirar suas dúvidas ou procura outra empresa!
E o resultado disso é um time onde ninguém sente que pode aprender e evoluir sem ser julgado.
O pior Tech Lead é aquele que transforma conhecimento em um instrumento de opressão, ao invés de uma ferramenta de capacitação.
Babacas e o Efeito Catastrófico no Time
O que acontece quando um Tech Lead se acha superior e trata o time com arrogância?
🚨 Desenvolvedores mais juniores se fecham e deixam de perguntar. O medo de serem ridicularizados faz com que evitem pedir ajuda. E sabe o que isso gera? Erros evitáveis e um time travado.
🚨 A cultura da empresa começa a apodrecer. Quando um Tech Lead se sente no direito de tratar os outros mal, isso abre espaço para que esse comportamento se espalhe. O ambiente se torna tóxico, e as melhores pessoas vão embora primeiro.
🚨 Ninguém mais quer dar ideias ou inovar. Se cada sugestão que alguém faz é recebida com sarcasmo ou um “nossa, isso é básico, você não sabia?”, as pessoas simplesmente param de contribuir. O time vira um grupo de executores passivos, sem iniciativa.
🚨 O produto sofre. Quando o foco está na guerra de egos e não na colaboração, a qualidade do que é entregue cai. A equipe fica fragmentada, e ninguém mais se sente responsável pelo sucesso do projeto.
Se você notou comportamentos em si, reflita: será que sou realmente um Tech Lead ou só um dev experiente com um cargo que não deveria ter?2
Gestores: Excelência Técnica Não é o Único Critério Para Escolher um Tech Lead
Se você é gestor, preste atenção nisso: ser tecnicamente bom não significa que a pessoa está pronta para ser Tech Lead.
Antes de dar essa oportunidade a alguém, olhe além da técnica. Procure as seguintes qualidades:
✅ Ser referência dentro do próprio time. Mas ser referência não significa ser o melhor dev apenas do ponto de vista de código, e sim ser alguém que os outros confiam para pedir ajuda, discutir problemas e buscar conselhos técnicos.
✅ Ser uma pessoa fácil de se trabalhar. Isso significa transparência nas atividades, disposição para colaborar e nenhuma necessidade de ficar jogando politicagem dentro da equipe.
✅ Evitar conflitos desnecessários. Não estou falando de evitar discussões produtivas. Estou falando dos conflitos que não levam a nada, como debates intermináveis sobre tabs vs. spaces, sobre qual framework é o melhor “de verdade”, quem deve ser o primeiro a falar na daily, ou temas que são irrelevantes para o sucesso do produto... Em alguns momentos o líder técnico vai precisar comentar sobre situações que não podem ocorrer, mas isso deve ser dito e feito em momentos pontuais.
✅ Focar em ajudar os outros. Um bom Tech Lead não se esconde atrás de uma tela e foca só no próprio código. Ele está disponível, incentiva o crescimento do time e se preocupa em elevar o nível da equipe.
✅ Se preocupar com a qualidade do produto. O trabalho de um Tech Lead não é apenas técnico, mas também estratégico. Isso significa entender o impacto das decisões técnicas no negócio, garantir que as entregas fazem sentido para os usuários e manter um equilíbrio entre qualidade e prazos.
E veja bem: nem destaquei perfil de liderança ou comunicação assertiva. Esses pontos podem ser desenvolvidos com o tempo. Mas transparência, honestidade e trabalho em equipe são características que dificilmente podem ser “ensinadas” a um profissional que não quer mudar de atitude.
Se sua área ou empresa está escolhendo programadores para liderar apenas pelo código que escrevem, você pode estar promovendo a pessoa errada. E essa escolha errada pode custar caro.
A Diferença Entre Ser Exigente e Ser Um Babaca
Não estou definindo uma regra e afirmando que não é permitido exigir dos programadores qualidade, garantir que boas práticas sejam seguidas deve ser cobrado. Afinal, software mal projetado, código cheio de gambiarras e decisões técnicas ruins podem custar caro para o time e para a empresa.
Mas tem um detalhe que muitos esquecem: exigir algo pode ser feito de várias maneiras. E a forma como isso é feito define se você é um líder respeitado ou apenas alguém difícil de se trabalhar.
Vamos deixar algo claro: ser exigente não significa ser rude, agressivo ou arrogante.
💡 Ser exigente da maneira certa é quando você cobra qualidade com respeito, seriedade e clareza. Você dá feedbacks construtivos, explica o motivo das suas exigências e orienta o time para que todos cresçam.
💣 Ser um babaca é quando você menospreza sugestões, seus feedbacks são sem fundamentos lógicos, responde com sarcasmo, se irrita facilmente e usa seu conhecimento como uma arma para humilhar os outros.
Duas formas de exigir a mesma coisa — uma correta, outra tóxica
Exemplo 1: Code Review
👎 Forma babaca:
“Nossa, sério que você escreveu esse código assim? Isso tá horrível, refaz tudo!”
👍 Forma exigente e profissional:
“Esse código pode gerar um problema de performance quando escalarmos. Podemos tentar uma abordagem diferente? Eu sugiro XYZ. Qualquer dúvida podemos conversar e te explico melhor minha sugestão.”
A mesma crítica foi feita — a primeira destrói a moral do desenvolvedor, enquanto a segunda orienta e ajuda no aprendizado.
Exemplo 2: Um desenvolvedor novo pergunta algo “básico”
👎 Forma babaca:
“Pelo amor de Deus, como você não sabe isso? Isso é o básico do básico!”
👍 Forma exigente e profissional:
“Boa pergunta! Isso faz parte de [conceito X]. Se quiser se aprofundar, esse link pode ajudar. Mas, resumidamente, funciona assim…”
Reforçando novamente a diferença: exigir excelência significa puxar o time para cima. Ser babaca significa empurrar as pessoas para baixo.
Liderança Técnica Envolve Compreender Pessoas, Não Só Código
Liderar um time não é apenas sobre tecnologia, é sobre lidar com pessoas.
Cada desenvolvedor tem seu próprio contexto.
Cada time tem sua dinâmica.
Cada projeto tem suas pressões e desafios.
Se você acha que sua função como Tech Lead é apenas escrever código e corrigir os outros, você entendeu o papel errado. Liderança técnica envolve:
✅ Entender as motivações do time. Nem todo mundo aprende no mesmo ritmo ou tem as mesmas experiências. Um bom líder entende isso e ajusta sua abordagem.
✅ Criar um ambiente onde todos sintam segurança para perguntar. Se alguém tem medo de tirar dúvidas, é porque a liderança falhou.
✅ Equilibrar cobrança com apoio. Sim, você precisa garantir que a qualidade do código esteja alta, mas também precisa garantir que o time se sinta motivado para melhorar.
✅ Saber dar feedbacks que constroem ao invés de destruir. Se sua crítica não ajuda a pessoa a evoluir, então ela não tem valor.
Se a única forma que você conhece de ‘exigir qualidade’ é gritar, humilhar ou menosprezar, então você não está liderando — está apenas afastando as pessoas e contribuindo para péssimos resultados.
Se ninguém quer perguntar algo para você, se o time trabalha com medo de errar, se as pessoas estão desmotivadas e ninguém sente que pode discordar de você sem ser ridicularizado… então você não é exigente com respeito e nem um bom líder, você é apenas um babaca. 🙃
Conflitos e Relacionamentos
Se você chegou até aqui, já entendeu que ser um Tech Lead vai muito além da parte técnica. Seu papel envolve lidar com pessoas, mediar conflitos e garantir que o time continue produtivo, motivado e alinhado. Mas tem um detalhe que ninguém te conta (demorei anos para entender isso 😅): isso não significa que você precisa resolver todos os problemas sozinho.
Um erro comum entre Tech Leads que realmente se preocupam com o time é tentar absorver toda a carga emocional dos conflitos, das pressões do negócio e das dificuldades individuais de cada membro do time. Isso pode levar a frustração, exaustão e, ironicamente, a um próprio burnout do Tech Lead. Então, como encontrar o equilíbrio?
Desenvolvedores Desmotivados ou em Burnout
Quando um desenvolvedor do seu time começa a mostrar sinais de desmotivação ou burnout, a primeira reação de um Tech Lead geralmente é tentar resolver o problema diretamente. Mas antes de agir, é essencial entender a raiz da questão.
Burnout não surge do nada e muito menos é “frescura”, como muitos líderes e gerentes irresponsáveis insistem em acreditar. Ele é o resultado de anos de carga excessiva de trabalho, falta de pausas e descanso, além de cobranças sem fundamento e expectativas irreais impostas sobre uma pessoa ou um time inteiro.
Às vezes, a desmotivação tem origem técnica: uma arquitetura engessada, código legado frustrante ou a falta de desafios estimulantes. Em outros casos, o problema vai além do código: prazos irreais, falta de reconhecimento, cultura tóxica e sobrecarga contínua são fatores que destroem a motivação e a saúde mental de qualquer equipe.
O papel do Tech Lead não é o de um psicólogo, mas de um líder que sabe ouvir, observar e agir de forma estratégica. Se o problema for técnico, talvez seja possível redistribuir tarefas, melhorar processos ou trazer desafios mais alinhados com o crescimento do time. Mas se os sinais indicam algo mais sério—especialmente um possível burnout—isso precisa ser tratado com a devida urgência e escalado para a liderança da empresa.
Por que o Burnout é perigoso para o time e para o Tech Lead?
O burnout não afeta apenas o desenvolvedor individualmente—ele se espalha rapidamente pelo time. Quando alguém entra em exaustão extrema, os impactos vão desde a queda de produtividade até um efeito cascata, onde outros membros do time absorvem mais demandas e começam a se sobrecarregar também. A longo prazo, isso cria um ambiente tóxico, aumenta o turnover e destrói a moral da equipe.
Para o líder técnico, ignorar os sinais de burnout é um erro grave e tem um custo alto. Além de prejudicar o time, um líder que não confronta prazos irreais e sobrecarga de trabalho acaba se tornando parte do problema. Muitos Tech Leads acham que precisam “blindar” o time de tudo, mas essa abordagem é insustentável e perigosa.
O verdadeiro papel dele não é aceitar prazos absurdos nem permitir que o time fique exausto — é ser firme e claro sobre a realidade das entregas. Se você não faz isso, está apenas aceitando a pressão e transferindo essa carga psicológica para alguém do time ou para si mesmo.
Se um desenvolvedor está à beira do burnout, isso não é só um alerta sobre ele—é um alerta sobre o ambiente de trabalho como um todo. Como Tech Lead, sua missão é criar um espaço onde o time possa crescer, não apenas sobreviver.
O Que um Tech Lead Pode Fazer na Prática?
Não existe uma solução única ou mágica, mas algumas ações podem fazer toda a diferença. Vamos a elas:
1. Esteja atento aos sinais — e leve a sério
Burnout não acontece de um dia para o outro. Ele se acumula. Começa com um desenvolvedor que antes estava engajado, mas agora parece distante. A produtividade pode cair, mas o maior indício é o desânimo. Se alguém que sempre foi comprometido começa a demonstrar sinais de exaustão, impaciência ou desinteresse, não ignore isso.
Converse. Pergunte como a pessoa está. Não de um jeito superficial, mas de verdade. Muitas vezes, só o fato de alguém perceber o problema e demonstrar preocupação já faz diferença.
2. Questione prazos e proteja o time de demandas absurdas
Aqui vem a parte difícil: dizer “não” quando necessário. Se prazos ou demandas estão claramente acima do razoável, é sua responsabilidade como Tech Lead levantar essa questão. Isso não significa ser confrontador ou criar conflitos, mas sim ter conversas francas e baseadas em dados.
Se o time precisa de mais tempo, explique o porquê. Se a qualidade do produto está em risco por causa da pressão, diga isso abertamente. Seu papel não é aceitar tudo de cima para baixo, mas garantir que o trabalho seja sustentável.
3. Incentive pausas e equilíbrio
Trabalho ininterrupto não é sinônimo de produtividade. Na verdade, é o caminho mais rápido para o burnout. Como líder, você precisa ser um exemplo: incentive pausas, respeite horários e, principalmente, não glorifique a cultura do “trabalhar até tarde”.
Se o time sente que precisa estar sempre disponível para ser valorizado, algo está errado. A cultura que você reforça como líder define o ambiente de trabalho.
4. Dê autonomia e propósito
Nada desmotiva mais do que sentir que seu trabalho não tem impacto ou que você é apenas uma peça substituível. Um desenvolvedor que se sente constantemente pressionado e sem controle sobre seu próprio trabalho vai, mais cedo ou mais tarde, se desligar emocionalmente do que faz.
Dê espaço para o time tomar decisões, testar ideias e sentir que estão realmente contribuindo. Autonomia gera engajamento e propósito.
5. Não tente carregar tudo sozinho
Essa talvez seja a lição mais importante: você também precisa se cuidar. Muitos Tech Leads acham que seu papel é proteger o time a qualquer custo, assumindo toda a carga psicológica para si. Mas se você está exausto, se sente que está sempre apagando incêndios e que ninguém mais se preocupa com isso, pare um momento e reflita. Escale os problemas quando necessário. Peça apoio. Converse com outros líderes.
Espero que tenha ficado claro que burnout não é um problema individual, mas sistêmico. Ele acontece quando processos ruins, prazos irreais e cobranças excessivas se acumulam sem ninguém intervir.
Como Tech Lead, você tem o poder de mudar isso. Não sozinho, mas com pequenas ações diárias que criam um ambiente mais saudável e sustentável para todos.
Conflitos Internos: Resolver Sem Criar Ressentimentos
O maior desafio de um líder técnico não é resolver bugs — é resolver conflitos entre pessoas sem transformar isso em um problema maior.
Discussões acontecem em qualquer time. Divergências sobre arquitetura, discordâncias em code reviews, tensões entre prazos de produto e qualidade técnica… Tudo isso faz parte do dia a dia. O problema não está no conflito em si, mas na forma como ele é conduzido.
Um erro comum é deixar que um conflito técnico vire algo pessoal. Quando alguém sente que sua ideia foi descartada sem consideração, ou que seu trabalho foi criticado de maneira dura, isso gera ressentimento silencioso.
Um Tech Lead atento percebe isso e intervém antes que a situação escale. E a melhor forma de fazer isso não é tomando lados ou decidindo quem está certo, mas garantindo que todos tenham espaço para se expressar e serem ouvidos.
Isso significa incentivar uma comunicação mais objetiva: “Vamos focar no problema e não na pessoa. Por que essa abordagem é melhor do que a outra? Quais são os trade-offs?”
Se um desenvolvedor se sente desvalorizado, talvez o problema não seja o código que ele escreveu, mas a forma como o feedback foi dado. Um simples ajuste no tom e na intenção das conversas pode evitar uma série de conflitos desnecessários.
O Tech Lead Como Mediador Entre Diferentes Times
Lideres técnicos também precisam lidar com um conflito frequente: o choque entre tecnologia e negócio.
Quem nunca viu um time de engenharia frustrado com demandas que parecem não fazer sentido? Ou um time de produto irritado porque os desenvolvedores estão “complicando demais as coisas” ou estejam demorando para entregar os recursos prometidos?
O erro aqui é achar que a solução está em “comprar a briga” de um dos lados. O papel do Tech Lead não é escolher um lado, mas mediar a conversa e alinhar expectativas.
Se o time técnico está dizendo que “não dá para fazer isso dentro do prazo”, mas o time de negócio está pressionando, a função do Tech Lead não é simplesmente dizer “não dá” e encerrar a discussão.
O papel do Tech Lead é traduzir a complexidade técnica de forma clara, garantindo que as decisões sejam baseadas em entendimento real dos desafios, e não apenas em prazos arbitrários.
Em vez de apenas negar a solicitação, traga soluções alternativas e conduza um diálogo produtivo. Perguntas como estas podem ajudar:
✅ “Podemos entregar uma versão simplificada primeiro e evoluir depois?” (Ajuda a buscar um MVP viável sem comprometer a entrega final.)
✅ “Se for para manter esse prazo, onde podemos cortar escopo sem comprometer a qualidade?” (Alinha expectativas e evita promessas impossíveis.)
✅ “Se quisermos fazer isso da forma correta, qual seria um prazo mais realista?” (Traz clareza sobre o esforço necessário para uma entrega sustentável.)
✅ “Existe alguma métrica ou resultado específico que seja mais crítico do que a feature completa?” (Direciona a conversa para o impacto real no negócio.)
✅ “Se aumentarmos o prazo em X semanas, qual seria o impacto no valor que entregamos?” (Ajuda a justificar a extensão do prazo com base em ganhos concretos.)
✅ “Temos recursos suficientes para essa entrega ou precisamos de mais apoio (ex: reforço na equipe, ajustes de prioridade)?” (Direciona a conversa para possíveis soluções estruturais.)
Essas perguntas transformam um impasse em uma conversa estratégica, onde ambas as partes podem buscar uma solução viável, equilibrada e alinhada com os objetivos do negócio.
“O Tech Lead traz valor ao permitir que todos na equipe contribuam com o código o máximo possível; evitando reescritas devido a pessoas trabalhando de maneiras diferentes; gerenciando dívida técnica para facilitar a adição de código e promovendo relacionamentos entre o grupo de desenvolvimento e colegas de negócios para garantir que o código atenda às metas de negócios e entregue valor real. Como líder, você permite que outros façam seu trabalho; você harmoniza e, portanto, maximiza os esforços de todo o grupo, não apenas de um indivíduo.”
― Patrick Kua, Talking with Tech Leads: From Novices to Practitioners
Construindo Uma Cultura de Feedback Contínuo
Um time que sabe dar e receber feedbacks saudáveis evita muitos dos conflitos que falamos até aqui.
Mas feedback só funciona quando existe confiança. Se um desenvolvedor acha que qualquer crítica ao seu trabalho será usada contra ele, ou se um Tech Lead nunca aceita que pode estar errado, o ambiente se torna hostil e pouco produtivo.
O ideal é que o feedback seja algo natural e frequente, não apenas um evento formal no final do trimestre.
Se um dev errou, o melhor momento para falar sobre isso é agora, enquanto o contexto ainda está fresco e ele pode aprender.
Se um Tech Lead tomou uma decisão errada, ele precisa ser o primeiro a admitir isso e mostrar que erros são oportunidades de aprendizado, não motivo de punição.
E acima de tudo: um bom feedback sempre vem com uma solução ou um direcionamento claro. Dizer “esse código está ruim” não ajuda ninguém. Mas dizer “esse código pode ser melhorado usando essa abordagem porque resolve esses problemas” faz toda a diferença.
O Tech Lead Não Está Sozinho
No fim do dia, um Tech Lead tem um papel fundamental na cultura e no sucesso de um time, mas ele não é um super-herói que precisa resolver tudo sozinho.
Se um problema está além do seu controle — seja um conflito interno que não se resolve, seja uma sobrecarga de trabalho insustentável, seja uma falta de alinhamento com outras áreas — o correto é escalar para quem pode tomar decisões no nível certo.
O erro de muitos Tech Leads é tentar carregar tudo nos ombros. Mas o que realmente faz diferença não é a quantidade de problemas que você resolve sozinho, e sim a sua capacidade de garantir que esses problemas sejam resolvidos da melhor forma para o time, para o negócio e para a empresa.
A liderança técnica não é sobre controlar tudo, mas sobre criar um ambiente onde todos possam contribuir, aprender e crescer. E isso só acontece quando o Tech Lead sabe o que precisa resolver e o que precisa ser escalado.
Às vezes, o maior desafio é simplesmente garantir que as pessoas certas estejam conversando entre si.
Ser Tech Lead é Ter Visibilidade e, ao Mesmo Tempo, Não Ter. Como Resolver Isso?
Uma das partes mais frustrantes (e menos comentadas) sobre ser Tech Lead é que, muitas vezes, seu trabalho é fundamental para o sucesso do time, mas quase ninguém percebe isso.
Se o time está fluindo bem, entregando com qualidade e resolvendo problemas sem grandes incidentes, a empresa pode simplesmente assumir que “as coisas estão funcionando como deveriam”. Mas as coisas só estão funcionando porque há um trabalho invisível sendo feito nos bastidores.
“Quando você, o desenvolvedor, se torna um Tech Lead, de repente você percebe o quão solitário é o papel.”
― Patrick Kua, Conversando com Tech Leads
Ao mesmo tempo, se algo dá errado — prazos atrasam, bugs críticos aparecem, conflitos surgem no time — a responsabilidade recai diretamente sobre você.
Então, como garantir que o impacto do seu trabalho seja reconhecido e que sua carreira continue avançando?
Como Tornar Seu Impacto Visível para a Empresa?
A primeira coisa que um Tech Lead precisa entender é que liderança técnica não é apenas sobre código — é sobre resultado. E resultados precisam ser comunicados.
Se a única coisa que seus gestores veem são tickets fechados no Jira, você está deixando passar uma grande oportunidade de mostrar o real valor da sua atuação.
Para que seu impacto seja notado, você precisa:
🔹 Traduzir trabalho técnico para impacto no negócio
Se você propôs uma refatoração importante, não apresente isso apenas como “melhoria na arquitetura”. Mostre o impacto real: “Essa refatoração reduziu o tempo de resposta da API em 40%, melhorando a experiência do usuário.”
🔹 Criar alinhamentos estratégicos com a liderança
Participe de reuniões de produto, entenda os objetivos da empresa e conecte o trabalho do time a esses objetivos. Se um Tech Lead quer ser visto como um parceiro estratégico e não apenas como um executor técnico, ele precisa falar a linguagem da empresa.
🔹 Registrar e compartilhar melhorias e decisões
Muitas decisões técnicas e melhorias que você lidera passam despercebidas. Um bom hábito é escrever resumos periódicos para o time e a liderança, mostrando o que foi melhorado, por que foi importante e quais impactos foram gerados.
🔹 Dar visibilidade ao sucesso do time
Se o seu time está performando bem, não guarde isso para você. Celebre as conquistas coletivas e reconheça os desenvolvedores pelo trabalho feito. Quando a liderança percebe que o time tem alta entrega e um ambiente saudável, eles também percebem o papel do Tech Lead nesse sucesso.
O Que um Programador Precisa Entender Para Ser um Ótimo Líder Técnico?
Não é sobre ser o mais inteligente da equipe. É sobre construir um ambiente onde as pessoas querem trabalhar e onde as entregas acontecem de maneira previsível e sustentável.
Algumas lições essenciais:
✅ Não tente resolver tudo sozinho – Delegar é uma das habilidades mais importantes para crescer na carreira.
✅ Aprenda a priorizar decisões técnicas – Nem toda dívida técnica precisa ser resolvida agora, mas algumas podem se tornar um problema grave no futuro.
✅ Construa pontes entre tecnologia e negócio – Se você não consegue conectar o impacto técnico ao sucesso do produto, sua voz terá menos peso nas decisões estratégicas.
✅ Desenvolva pessoas, não só produtos – Um Tech Lead que apenas foca em código está limitando sua própria evolução. O crescimento do time é seu crescimento também.
✅ Aceite que você também pode errar – Os melhores líderes técnicos não são aqueles que sempre têm a resposta certa, mas aqueles que sabem corrigir o rumo quando necessário.
Como Dar os Primeiros Passos Para Avançar Para Principal, Staff ou Arquiteto-Chefe?
Se você já domina seu papel como Tech Lead e quer evoluir para cargos como Principal Engineer, Staff Engineer ou Arquiteto-Chefe, é preciso pensar além do seu time imediato.
Aqui estão alguns passos que ajudam a preparar essa transição:
🔹 Expanda seu impacto além do seu time
Tech Leads gerenciam times específicos, mas um Principal ou Staff Engineer influencia a engenharia da empresa como um todo. Comece a compartilhar boas práticas entre times, participe de decisões arquiteturais globais e se envolva com a comunidade técnica da empresa.
🔹 Seja referência em decisões estratégicas de tecnologia
Se você quer evoluir, precisa ser a pessoa que os gestores consultam quando estão em dúvida sobre o futuro técnico da empresa. Comece a se posicionar mais ativamente nas discussões sobre tecnologias, padrões e direções da plataforma.
🔹 Documente e compartilhe conhecimento
Escreva documentos técnicos, promova discussões sobre boas práticas e ajude a criar um alinhamento técnico sólido. Líderes técnicos de alto nível são reconhecidos pelo seu legado dentro da engenharia.
🔹 Entenda o roadmap da empresa e alinhe as decisões técnicas a ele
Avançar na carreira significa ter uma visão ampla de tecnologia alinhada ao negócio. Se você quer ser promovido para um cargo de Staff ou Principal, precisa mostrar que suas decisões técnicas não são apenas boas do ponto de vista da engenharia, mas também estratégicas para o crescimento da empresa.
🔹 Construa sua reputação dentro e fora da empresa
Líderes técnicos de alto nível são reconhecidos não só dentro do time, mas na comunidade técnica. Se possível, compartilhe aprendizados em meetups, conferências e blogs. Isso aumenta sua visibilidade e posiciona você como uma referência no mercado.
O Que Fica Dessa Conversa?
Ser Tech Lead não é um cargo para inflar o ego. É uma posição que exige equilíbrio entre conhecimento técnico, pessoas e estratégia de negócios. Você precisa ajudar o time a crescer, garantir que a empresa entenda o valor do seu trabalho e, ao mesmo tempo, preparar seu próprio caminho para o próximo nível.
E se você ainda está começando essa jornada, lembre-se: o que faz um excelente Tech Lead não é só o conhecimento técnico, mas a capacidade de conectar pessoas, resolver problemas e criar um ambiente onde todos possam crescer.
Se você quer ser um líder técnico de verdade, faça essa pergunta para si mesmo:
👉 O time está melhor por minha causa?
Se a resposta for “sim”, você está no caminho certo. Se for “não”, talvez seja hora de refletir onde pode melhorar.
Eu agradeço DE CORAÇÃO você ter lido até o final! Grande abraço! ❤️
Quando falo que muitos Tech Leads caem na armadilha de nunca deixar um erro passar, não estou sugerindo que devemos permitir bugs ou falhas chegarem à produção sem controle. O papel de um Tech Lead é garantir qualidade, sim — mas não significa que ele deve ser o único guardião absoluto da perfeição.
O que quero dizer é que um Tech Lead precisa permitir que o time também aprenda a identificar e corrigir problemas por conta própria.
Por exemplo, em um code review, em vez de apontar diretamente que um trecho de código está errado, um bom Tech Lead pode primeiro esperar para ver se outro desenvolvedor do time identifica o problema. Se ninguém notar, ele pode fazer perguntas que guiem a descoberta, como:
🔹 “Esse código cobre todos os cenários possíveis?”
🔹 “O que aconteceria se tivéssemos um input inesperado aqui?”
🔹 “Temos um teste cobrindo esse fluxo?”
Esse tipo de abordagem incentiva pensamento crítico e aprendizado coletivo, ao invés de criar uma cultura onde o Tech Lead é o único que vê problemas.
O erro pode “passar” até certo ponto — dentro de um ambiente controlado, como um pull request ou uma revisão técnica — mas o objetivo final continua sendo garantir qualidade, sem tornar o time dependente de uma única pessoa para isso.
Essa frase pode doer. E não, não é lacração.
Ela serve como um lembrete — para mim, para você, e para qualquer um que busca (ou já ocupa) o cargo de Tech Lead.
Liderança técnica não é um título, é um papel de responsabilidade real sobre o crescimento do time e o sucesso do produto. Se você leu essa pergunta e sentiu um desconforto, talvez seja o momento de refletir. Não está tudo perdido! Sempre existe tempo para melhorar!
Estar no cargo e ser realmente um líder são coisas diferentes. E o primeiro passo para evoluir é reconhecer onde podemos melhorar.
Bicho, essa prática de promover a líder o dev mais foda tecnicamente é tão tacanha que eu desacredito o tanto que ainda rola.
O que já sabemos bem: o skillset de um gestor é diferente do skillset de um dev. Você trouxe uma porrada de skills necessárias para o líder e um dev IC pode passar uma vida toda sem desenvolvê-las - simplesmente por não serem relevantes no seu dia a dia.
Nessa prática, acabamos desmotivando perfis técnicos brilhantes que topam fazer gestão de pessoas pois veem nisso a única oportunidade para crescer na carreira. E aí depois de um tempo ele sai da empresa - que acaba perdendo um líder mediocre e um técnico excelente, numa tacada só.
Este poste foi muito útil, solidificou melhor os meus conhecimentos sobre liderança.
Obrigado pelo poste e por compartilhar no E-Mail.